Gestão "by Ernane"

Em entrevista nos primeiros dias de governo o prefeito Ernane, indagado sobre o que a população sebastianense podia esperar de sua administração, respondia: “Tudo aquilo que não conseguiu na administração passada. Transparência, pessoal imbuído em prestar o serviço que tem que ser feito. Não vai ter dinheiro em caixa, mas sim aplicados em melhorias. Pode esperar trabalho, ter oportunidade de parar a gente na rua e conversar, vir no gabinete e ser atendido. Não tem mais perseguição.”

Acredito ser esta sua proposta na época. Seu ideal e meta, pelo menos a princípio. Durante um curto período de governo assim agiu e determinou que seus comandados agissem. Mas por algum motivo, ainda inexplicável, mudou. Más (sa) companhias, cobiça, deslumbramento do cargo? Constatação da realidade da prefeitura e dificuldade em cumprir o prometido? Não sei, mas esperava desta administração exatamente o prometido.

E não seria tão difícil. Transparência. Aplicação do dinheiro público em melhorias. Trabalho para a população sebastianense. Ir ao gabinete e ser atendido. Não perseguir ninguém. Todas estas premissas de governo, sem exceção, deixaram de ser cumpridas. O prefeito é inatingível para população, secretários, diretores e toda gama de servidores públicos. Poucos têm acesso a ele.

No início dizia: “O contato direto e permanente com o cidadão é de extrema importância para o administrador público. Nada melhor que o próprio munícipe para nos trazer esse importante apoio para as ações da prefeitura, afinal, ninguém conhece melhor o seu bairro do que o próprio morador”. Hoje não ouve ninguém, não liga para denúncias de corrupção, não toma qualquer atitude quando um servidor é flagrado cometendo irregularidades. Acoberta-o. O que aconteceu? Mudou por quê? Ou não mudou e foi dissimulado enganando-nos durante sua campanha e discursos?

O dinheiro público está sendo aplicado de forma correta em melhorias? Será? Aonde? Nossa cidade não merece resumir-se ao que estamos vivenciando! Apenas a obrinhas relacionadas em uma revista? Com a receita que temos só podemos almejar o que está sendo entregue? Há alguma coisa errada. O dinheiro público está sendo desperdiçado.

Mas não adianta fazer obras maiores e superfaturadas ou concorrências maculadas. Administrar um município não é fácil. Não é possível acompanhar tudo e são necessários colaboradores sérios que cumpram sua função, ou seja, aquele “pessoal imbuído em prestar o serviço que tem que ser feito”. Inadmissível é existirem denúncias, relatórios, ofícios endereçados a si e não haver qualquer atitude. Assim está sendo a administração Ernane. Falsa, hipócrita e não transparente.

Exemplifico. Em fevereiro do ano passado como diretor de obras públicas constatei diversas irregularidades na Escola Cynthia Cliquet Luciano e bloqueei toda e qualquer medição a contragosto do secretário de obras; endereçando correspondência para a Camapuã Construtora foram solicitadas informações sobre a inexecução de uma série de serviços e ainda a troca de outros sem anuência da administração passada ou atual. Foram trocadas algumas correspondências e em nenhuma delas foi explicado ou informado o solicitado.

Aterro, estacas em metragem superior, quantidades excessivas de concreto pré-moldado, estrutura metálica disforme do projeto, revestimentos não executados e especificações unilaterais pela construtora impediam a liberação da medição; o dinheiro público não podia ser jogado fora. Depois de muita choradeira, e promessas de relatar os serviços não realizados e/ou realizados disformes do contrato, foi autorizado pelo prefeito uma pequena medição de R$ 150 mil. Nessa época constatei quase R$ 1,2 milhões em serviços pagos e não realizados. Todas estas questões foram devidamente relatadas e apresentadas sob farta documentação e encaminhados para quem de direito.

Algumas questões técnicas foram respondidas, outras não e a obra caminhou a passos de tartaruga sob ameaça de paralisação de serviços por falta de dinheiro. Incrível. Não cedi, não aceitei os serviços mal executados e numa simples canetada deixei de fiscalizar esta obra. Fui transferido de departamento. Não acompanhei mais a obra e, portanto leviano tecer comentários sobre o andamento dos serviços realizados e/ou reparados.

Em dia agitado, quando da entrega dos novos uniformes para os alunos, estive lá olhando a obra e os serviços concluídos. Um choque. Os revestimentos não foram acertados, a quadra não foi mexida, a “estrutura espacial” continuava grotesca da mesma forma, o gesso do forro soltando-se, a impermeabilização da calha (feita diferentemente do especificado) mostrava sua inadequação e por incrível que pareça, a caixa d´água elevada de nove metros e seus complementos não foi construída e tampouco a caixa de retardo de águas pluviais com 50m³. Se fosse feita, o município poderia adaptá-la para água de reaproveitamento, economizando e demonstrando cidadania para os alunos desta escola.

Se tivesse de valorar os serviços não realizados e quantitativos majorados o faria em torno de dois milhões de reais. Inexplicavelmente a prefeitura inaugurou a obra pagando para a Camapuã Construtora toda a obra e um pouquinho mais atingindo a quantia de R$ 6.055.178,48. De nada adiantou a apresentação de relatórios com ampla justificativa dos fatos e fotos? Qual o interesse em liberar dinheiro não devido? Atingir o percentual exigido para a educação? Foi realmente a construtora que o recebeu?

Com esse dinheiro pago e gasto indevidamente a administração Ernane poderia construir mais de cinquenta casas populares, utilizando-se de outro projeto mais digno evidentemente, mas até pelo incrível preço alcançado pela secretaria do Massa (Habitação e Planejamento). Será esta a aplicação do dinheiro público alardeada no início de sua gestão? Esperamos que não e que o descaminho seja revertido.

Queremos mais transparência, honestidade, dignidade e probidade administrativa. Queremos menos coincidências. A empresa Camapuã que “faturou milhões” sem executar os serviços continua se dando bem em nosso município. Ganhou a concorrência da obra da construção de estação para ponto final de ônibus no bairro do Itatinga pelo módico valor de R$ 864.223,88.

Há incoerência neste valor. Na época ventilou-se a hipótese de colocar a estrutura do Terminal Rodoviário do Centro no terreno do Itatinga. Não cabia, era muito grande. Aquela obra custou aos cofres municipais R$ 577 mil. Quando lançado pelo “Pacote de Obras” a sua estação para ponto de ônibus custaria somente R$ 150 mil. Ilógico não?

Haverá alguma relação na liberação de dinheiro público indevidamente e posterior afortunada concorrência? Missão para nossos vereadores, fiscais do povo, que nada fazem, fiscalizam ou controlam. O dinheiro não é do prefeito pra gastá-lo mal. É do povo, portanto exigimos respostas, fiscalização, explicações e ressarcimento do dinheiro gasto indevidamente. Já.